sexta-feira, 7 de novembro de 2008

• O lançamento dos Versos ulissianos

Flores do Caos. Este é o nome do primeiro trabalho em poesia, um livro que projeta a figura de um raro talento no cenário artístico regional: Ulisses Góes, um jovem poeta que mostra um domínio atordoantemente encantador sobre as palavras, desenvolvendo em cada poesia a mais pura musicalidade e lirismo.O Itabunense Ulisses produziu um livro cujas poesias cativam pela sua essência tanto rica em sentimentos quanto vertiginosa em imagens e referências.

Ulisses Góes revela um domínio encantador das palavras. Suas poesias cativam, tanto pela essência rica em sentimentos, quanto pela força das imagens e referências que projeta. Itabunense, estudante de Letras e Artes da Uesc, o autor já tem em seu currículo literário uma participação na coletânea Poetas Ocultos, em janeiro de 1999, e premiação entre os 10 melhores no X Concurso Regional de Poesias Euclides Neto, promovido pela JP Produções, Casa dos Artistas e Fundação Cultural de Ilhéus, em 2000. Em agosto de 2001, Ulisses consegue o 1º lugar na XI edição do mesmo concurso, com um poema que homenageia o escritor Jorge Amado.

A poesia está presente há muito tempo na vida de Ulisses, que desde a infância faz versos. Criado e crescido em terras grapiúnas, Ulisses mostra em seus poemas uma desenvoltura e intimidade com as palavras de tal maneira, que acaba criando uma forma própria e definida de escrever seu versos. Não há regras estilísticas, e o poeta se lança ao sabor de suas criações, demonstrando em cada fragmento de suas poesias toda a emoção que flui de sua alma, em versos ora de cunho politizado, (“...Anuncia a denúncia de miséria séria/Alerta contra o oco no varapau do sertão/Esse ser tão faminto nesse mundo infame...”), ora de teor essencialmente lírico, deixando transparecer todo o sentimento que vai pelo coração do poeta (“...Vi no Mar a imensidão do amor de Poti/E a grandeza de meu sentimento por ti...”), ou revelando a importância da palavra Amizade em sua vida (“...Abrir asas/Sobrevoar as cumeeiras/Beijar docemente as goiabeiras/E soprar a amizade/Para dentro dos teus olhos nus...”).

Jornalistas, publicitários e empresários reuniram-se a parentes e amigos do poeta e designer gráfico, Ulisses Góes, para o coquetel de lançamento de seu primeiro livro de poesias, Flores do Caos, no dia 07 de junho de 2001, na Casa do Pão de Queijo, no Jequitibá Plaza Shopping. Publicado pela Editora Agora, o livro, com 52 poesias em 160 páginas, tira do anonimato um raro talento da arte regional.






































Flores do Caos mostra um poeta inquieto e disposto a inovar. Seus trabalhos não estão presos a regras estilísticas e passeiam por mergulhos interiores, protestos políticos, contemplação da natureza, sempre anunciados com muita emoção. Para saber como adquirir o livro Flores do Caos, envie email para ulissesgoes@gmail.com

• Prefácio de aquino

Ulisses Góes é um desses jovens que habitam as nossas cidades, convivem com as pessoas, vivem o seu dia-a-dia ou menos comum e que passariam despercebidos, escondidos atrás de uma certa timidez, não fossem eles talentosos, versáteis e mais que isso, dotados de imensa sensibilidade. Conheço o autor de "Flores do Caos" há muito tempo, mas sumimos um do outro por alguns anos, até que nos reencontramos no jornal Agora, sendo ele o responsável pela diagramação da coluna que ali ouso escrever semanalmente.

Quando fui convidado a escrever este prefácio minha primeira reação foi de surpresa. Pensei cá com os meus botões que o autor poderia ter escolhido gente mais talentosa para esta missão, talvez um maior conhecedor dos meandros poéticos, da métrica, de regras ou que tais. Senti-me homenageado por aquele menino, companheiro do meu filho nas peraltices de infância, brincando em minha casa e sem sugerir àquela época que um dia me provocaria para um desafio tão emocionante.

Aceitei a incumbência porque gosto de poesia, sou sensível à poesia e confesso o meu encanto pela forma como os poetas nos transmitem sentimentos. Li, de um só fôlego, os originais de "Flores do Caos", a primeira investida de Ulisses Góes na literatura poética. E gostei do li. Fosse um especialista e faria comentários técnicos sobre a obra. Falaria de lirismo, como em "Uma Flor de Katinha", da mensagem social em "Satélite Mandacaru", de amor, como em "Genuflexo", de erotismo, em "Prece no Cio" ou de sonho, como em "13 de Setembro". Diria que a sua poesia ora nos remete aos questionamentos mais profundos do ser humano, ora nos conduz à intimidade mais reveladora da alma. Ulisses Góes desmente a máxima, também poética, de que "o poeta só é grande se sofrer", pois é reveladora a sua alegria de viver e a sua esperança no homem.

O poeta Ulisses tem uma saudável caminhada a percorrer. Difícil, como são todos os caminhos da literatura, mas, potencialmente, com muitas possibilidades de sucesso, pela simplicidade e sensibilidade dos seus versos, gostosos de ler e de sentir.

Em fevereiro de 2000
Ramiro Aquino

• Prefácio de ribeiro

Caos. Palavra que remete à desordem extrema, ao desmontar de estruturas, à plena anarquia de coisas, fatos, pensamentos.

Flores. O ressurgir da vida, o recomeço, o nascimento da esperança. Como o amor. Tal qual a semente, obrigada a morrer para germinar.

Flores do Caos é um paradoxo produzido à base de inspiração verdadeira, de uma intimidade extrema com as palavras, que permeiam o precipício sem se deixar cair. Em seguida, lançam-se ao fundo para, como num milagre, retornar ao ponto de partida. E lançar-se novamente. É o exemplo puro da coragem de quem mistura-se a tornados e deixa-se levar ao sabor de ventos enfurecidos. Ulisses Góes.

A poesia ulisseana - o leitor há de perceber - passa relativamente longe de temores diante do novo. Na verdade, este o atrai e serve-lhe de subsídio para quebrar todas as barreiras, produzindo beleza desgarrada de tabus estilísticos. O compromisso é puramente com o sentimento, tal qual eflui d’alma, sem molduras douradas, nem tratamentos de imagem. É pensamento de arestas deslavradas.

O autor brinca naturalmente com as palavras e compõe belos fragmentos. Em "As duas meninas", ele tem a ousadia de navegar e-maii a uma tempestade.com.bravura. Em "Suspiro de Ocaso", viola as leis da natureza e funde a eternidade em um segundo. Em "Flores no Jardim", pede licença para poemar...

Ulisses tem com as palavras uma relação de amizade. E elas não poderiam ter amigo melhor e mais fiel do que um poeta para quem a existência pode resumir-se exatamente neste vocábulo: Amizade, com "A" maiúsculo. E o leitor poderá confirmar a veracidade dessa afirmação ao ler "Na varanda".

Flores do Caos é um mergulho na alma desse pacato cidadão que poema, e porque não dizer... po-ama. O livro transforma a proposta da esfinge e clama: devora-me e então ter-me-á decifrado.

Em junho de 2000
Ricardo Ribeiro

• pulsar

Defronte de onde emanam Sóis
Luzes projetam-se em arcos
Pólens luminosos em curvas
Semeando flores cósmicas
No jardim de visões turvas
Turbantes ao sol de passos lerdos
Desertos derretem as retas
Mediterrâneo exótico incerto
Medito erradio vagando azul verde vinho
Me dito pelo rádio em ondas espaciais
Especiarias da Índia para Colombo
Espécimes da Mídia Interativa para Columbia
No céu da boca tua um beijo de língua nua

Eterno sonho límpido lívido boreal
É certa essência trigueira cabocla
De um grito escapulido na mata
Catado por fontes de onde emanam Sóis
Ante os mármores em formas
Nascem Versos Ulissianos
Quebrados em fractais pulsantes
Espatifados em partículas Sóis pensantes.

• um sonho para joão bosco

Sonhei com um furacão
Engolindo Carvalhos
Arrancados do chão.
Flutuava minhas pálpebras piscantes
Enquanto contemplava
Uma pequena rosa
brincar
No olho do furacão.
Tudo está calmo.
Espero meus pés beijarem o chão.

• vai fly

Livre como um pássaro
No despertar dos sinos
No abrir e fechar
de portas e janelas.
Abrir as asas
em Quasares Quadrantes
Marcar vidraças nuas
com
"Largos giros ondeantes e sempiternos..."
Expulsar o olhar
Flanar pulsante
as fachadas coloniais
os barrocos sinais
as vias interestaduais
Livre como um pássaro
Uns beatles
Uns besouros
e mais algumas
pétalas a me fazer companhia
nas distâncias outonais.

• vinte e dois

Do alto de meus 22
Tenho a doce amargura inclinada
de quem lapida pedras dilacerantes
Flexiono ao vento beijos de amantes
Recito todos os avessos
Converso os versos
Verso as rimas
Acaricio romãs
Festejo flores lancinantes
Grito preces românticas
sem presas semânticas
Línguas volúveis
Volatilizando palavras
Tenho odes elegias sonetos no coração
Engoli conectivos e vírgulas elípticas
Pois tenho fome de amor
e sede de Humanidade
Bem aqui de cima
Do alto de meus 22.

• declinação

Os meninos estão
brincando no jardim
sob a fina chuva de maio
Na cadência de seus passos
O paraíso provoca desmaio
manso ameno aberto

O verbo está solto
subjulgando as pessoas
o verbo passeia
prometido jurado conjugado
O tempo é perfeito
sem passado presente futuro

Os meninos no jardim
sob a fina chuva de maio
Na cadência de seus passos
O paraíso um desmaio
manso ameno aberto
Sem verbo
Só o espírito certo.

• 13 setembro

Quero aprender a voar
e poder tocar o véu azul
com pensamentos de veludo.
Abrir asas
sobrevoar as cumeeiras
beijar docemente as goiabeiras
e soprar a amizade
para dentro dos teus olhos nus.
Quero um sonho
embrulhado num abraço
Um beijo ao nascer do sol
e um sorriso descendo a ladeira
do entardecer.
Quero aprender a ser eu
e entregar todos os meus erros
para o jardineiro enterrar
como fertilizante para as flores.
Quero chorar minha sensibilidade
quando ouvir alguém
recicantar estes versos
emoldurados
pela flutuante melodia de uma flauta.
Setembro está passando...

• espírito do silêncio

Acordei em gesto e silêncio num breve
tempo amarelado de um quarto que era
meu apenas no instante no qual ele
respirava como um pensamento.
Passei a mão nos meus cabelos
molhados e meus dedos voltaram
afogados nos sorrisos de teus sonhos.
Pensei em você como um rio tímido de águas
límpidas lavando meus tímpanos com
burburinhos lívidos.
Meu pensamento sonha river
Meu quarto é um final de tarde dourado.
Penso em você como um músico
pensa a sua melodia. Então sou
um instante que desagua e vai beijar
as margens dos dois lados.
Sorrio. Sou rio.
Você é River.

• ventos elísios

Em pé sobre os recifes
Abro os braços
para a brisa que vem do Farol
E meu sorriso pensa em alguém
Imagino uma vaga noção
como um vagão cheio de nada
que naufraga antes do fim da linha.
Uma rosa-dos-ventos floresce
perto de uma nau encalhada na restinga
Decerto não resta mais água na moringa
E lá no deserto
o Vento beija o ventre
das dunas dançarinas.
Tudo como um devaneio sob o sol de
um veraneio.
Eu penso o amarelo como o elo
entre amar o belo e dissolver o desejo
em suaves laranjas doces
Espero o horizonte passar sem pressa
Fico apreciando meu amor amanhecer...
Brilha a tua pele morena brincando ao sol
Meus olhos rezam uma oração silenciosa
que se mistura ao sal do teu corpo molhado
Miro o sossego que encontro ao sul de Miramar
As velas iluminam o azul
Em pé sobre os recifes
Abro os braços
Acho que vou voar.

• fronteira

A chuva que ontem
choveu no meu sonho
Hoje molha as calhas
Lava as cumeeiras
Assusta os estranhos
Troveja os pensamentos.
Pois eu sei que a tempestade me atrai
O vento me distrai
justo onde me contrai
Um sopro de vida na divisa
entre o que eu toco
e o que me toca
É tênue a linha que separa
e grossa a chuva que assusta.

• e agora, uma mensagem dos nossos patrocinadores

Há em ti tudo
Pratos vazios
Cronômetros parados
Atos isolados
Ilhas afundadas
Pães sonolentos
Linhas lerdas
Pontos lentos.
Há em ti tudo
Enganos por telefone
Sábados intragáveis
Goles amolecidos
Palavras amanhecidas.
Há em ti tudo
Menos
Atitude.

• naveGar incisivo

Com tudo inverso
Conteúdos adversos
Há lagoas análogas
Em pontos diversos
Com pontes de versos
Compostas em arcos
Dispostas a marcos
Biunívocos
Sem equívocos
Na sua Universalização.
Com nexo mirando
No reflexo admirando
Caravelas soltas
Em busca de sonhos flutuantes
Respirando a fome
De pescar ilhas com um arpão.

• sobre a ponte

Na penumbra do fim da tarde
Fui colhendo com os olhos
Baronesas no rio Cachoeira.
Aqueles ônibus lotados
Iluminam minhas pálpebras tristes
Penso neste momento único
de criação de versos tão banais
registrados para a Posteridade.
Largo os passos
e caminho sobre a ponte
acompanhando os automóveis.
Atravessar é preciso.

• hortelã

Neuroniei um pensamento gasoso
Fluiu viciosamente como sopro de baseado
Vi flores de papel voando por entre
os edifícios holofoteados pelas cabeças elétricas
Os meninos engoliam pedrinhas brancas nas
esquinas e nos sinais
Vacas pintadas deixavam suas pegadas
no visor alucinado cuspindo todos
os canais
Almas bárbaras engolindo sensações
sem razão
Na vazão da lava parabólica
a visão paranóica
A fumaça dispersante elevou-se
momentos antes que eu pudesse
mastigar-me
mentolado.

• lilás mel chocolate verde limão

Ainda ontem
Andando como um náufrago em alto-mar
Percebi o vazio dos interiores
floreados de feridas outonais
Participando dos finais das tardes
de um inverno sem sonhos

Ainda cedo
Engolindo o medo e raiando os olhos
na sutil névoa matinal
Lembrei minhas viagens por outros planos
Na sublime noite escapulida
Não se pode agarrar os sonhos com as mãos
É preciso derramá-los nas têmporas

Ainda assim
Participo do pensamento de que
não existe o Fim
Emborco cálices nas portas das Catedrais
e vou correndo a encontrar
meu pequeno anjo rosa menino brincalhão
nas planícies penteadas de trigais.

• da precisão de navegar

Engoli numa noite de dezembro
a penumbra de um quarto só
Criei sustento em meu pensamento
Ateei fogo num pedaço de vento
Acendi cacau na ponta de meu biscó

Da Irlanda busquei a chama que conforta
Em um castelo quebrei o ritmo do verso
Do ponteiro das horas fiz um mastro reverso
Iluminei dourado na fresta da porta

E as horas passaram mansas
lambendo o sono belo das crianças
Havia mensagens douradas na proa da nau
Você vestida de preto
Escrevendo mensagens de Natal
e eu arriscando um marfim
num eco monocromático sobre este tom jobim

Vi no Mar a imensidão do amor de Poti
E a grandeza de meu sentimento por ti
Porto perto longe mar aberto
Marfim
Oceano ocê amo te amo te amar
Perto do Mar sentado na beira do cais
Navegando meu olhos
Procurando avistar minhas espanhas
e meus portugais.

• um poema perfeito

Este dia que nasce
Meu choro por tempos perdidos
Minha amargura de amar
na solidão mais pura
A dor que eu vejo
A palavra que eu sinto
O momento em que minto
O espelho que estilhaço
para não encarar
meus desejos latentes
e minha vontade tardia
de ser Humanista
O sangue na pista
Minha mão esquerda vazia
e minha direita cheia de nada
A indiferença e a apatia
Meio-dia é o pico
E os esfomeados se drogam
As crianças descalças, o descaso infame
Os urubus em close, o lixo e a fome
Os muros, as mortes, os mártires
A Bósnia, Sarajevo e as ruas cariocas
Os abandonos, as donas-de-casa
Os Carnavais entorpecentes
puxando as quartas da Phoenix Maldita
onde a tua realidade ressurge das cinzas
O febril carrossel giratório
e o trem descarrilhado da Central
O caudilho, o neonazismo
O teu facismo
A minha outra face nunca oferecida
A hipocrisia e o cinismo e o sino
Meio-dia é o sol a pino
E todos pisam em si mesmos
Tua mansa maldade no fim da tarde
As poças, as lamas, os morros
As mentiras, as vendas nos olhos,
Os choros, as velas, os velhos,
O pó nas narinas, a poeira nas estradas
Os buracos nas cabeças
Os narcisos distorcidos, Eros aliciantes
As minervas massificadas
O falso puritanismo, a falta de sentido
Os teus Dezsmandamentos
Os próximos cinco minutos de incoerência
Os doentes incuráveis, os sexos impenetráveis
A desolação, o sofrimento, o que é imposto
A tristeza pintada em teu rosto
Este dia que se vai
E tudo o que me resta
É um gosto de Perfeito no palatino da minha alma.

• marginal menino de Iansã

Menino azul
Azul como o céu que abarca.
Menino leve
Leve como pensamento frouxo.
Menino amarelo
Amarelo como a ganância humana.
Menino amargo
Amargo como decepção inesperada.
Menino pesado
Pesado como consciência arrependida.
Menino verde
Verde como o Mar que acolhe.

• sete de setembro

A chacina
A mão assassina
A rotina ensina
que a vida é dura
E enquanto dura
é triste
é dor pura
é cor púrpura
é sina
A rotina ensina
que a vida é sina
é carne, enfim
é carnificina
é menino e menina
na alça de mira
é índio alvejado, queimado e abandonado
é homem morto deitado e calado na favela
Ensina a rotina
que a chacina
é Brasil escolhendo entre
Independência ou Morte.

• caminhos de barro

Os homens
Calçados
Vivem
Amargamente
Pisando
Diariamente
Em suas
Próprias
Almas.

• terra e céu

Imagens em preto e branco.
A obesa sociedade sempre faminta.
Filosofia embriagadora
depois do primeiro gole.
O amor de Drummond é grande
e cabe num breve
espaço de beijar.
Sublime negrume pastoso estrelado.
Siderais imagens coloridas.

• ateliê

Caindo leve flui o céu num horizonte rosicler
O crepúsculo desencarna o dia entre
sussurros de carnes
e goles de penumbra
Despontam luminosidades mentirosas
Afluem para subterrâneos abertos fogos expostos
Ruas rios corredores de lavas dispostos
a sucumbir tudo em cinzas.

Flamejam neons trêmulos pelas avenidas atrevidas
Cilindros luminosos comandam o tráfego
O ego chupa o eco o tráfico engole os esquecidos
A ilusão inspirada
O delírio lançado veia adentro
Desesperados tentam abraçar o mundo
Nas estantes dos supermercados os rostos das crianças desaparecidas
Os becos escuros sopram narcóticas variantes
Meninos vadios vazios de esperanças enfeitam praças e jardins.

O tempo sempre começa e termina dentro
da Eternidade
da infinita Eternidade de si mesmo.

Luzes dançam nos vacilos da consciência
O futuro absorve manso encéfalos diluídos no godé
enquanto a criança se veste de azul
implorando um pedaço de vida.
Sobre a mesa um copo de vinho assiste o olvido
Desacordado o rapaz captura visões fantásticas
Pela janela sem grades quadrado ele vê um céu
No qual pessoas voam afogadas num escarcéu
logo após o pincel do Artista sangrar o toque final.

• satélite mandacaru

O olho no céu
O sol banha as antenas
Caatingas sintonizadas
Estação seca
O suor na testa
Cabaça de água
Estrada de terra
Poeira nos olhos
Chuvisco na imagem
Nuvem é sonho
Sol é quem manda
O santo na capela
A flor a foto a vela
O menino no braço
A boca sedenta
A fome arrebenta
O horizonte distorcido
O asfalto queimando a sola
Fervendo o ar na miragem do bailado
O sal do teu corpo
Tua pele exposta
Chiado e interferência
Atividade solar
Jamacarus no ar
O choro a fome
O açude o homem
Latas e baldes
Fontes escassas
Catende calango
O bicho humano
O chão rachado
Um nordestino perdido
Um sonho achado
Retirante na cidade grande
Exilado pelo sertão castigado
Através do canal cariri
O sertanejo largado no meio do nada
Mostra seu sorriso banguelo amargo maltratado infeliz
Via satélite para todo país.

• distorção

Em meu jardim lírios psicodélicos
Viram o flutuar dos
Devaneios bélicos
pelos céus televisionados da Bósnia.
É o fim do século
e ainda há tantos homens cansados
Atravessando borboletas
Espremendo suas vidas
para mastigar pães esmigalhados.
Enquanto isso, eu enxergo os sobreviventes...

• verso beat

Espectros teleinjetáveis
para os viciados
em atos interativos.
Sujeitos objetos objetivos
telas plenas de definição
nelas cenas de consumo e ação

Fibroníricas óticas
Em lugares comuns controles remotos
Visores vi dores devotos
dependentes de seus desejos
Todos os seus desejos
Derretidos na lava
Perdidos na lama
Diluídos na imagem.

• 384.320 kms

A calmaria
acalmaria
Maria
na maresia
a beira-Mar
Beirando o ar
Cheirando a côco
Pocando um tôco
Chutando areia
Beijando sereia
Todavia Maria
Caminha na linha
rente ao trânsito
Transeuntes em transe
Nervos em choque
No toque do botão
Maria sonha
em beirar o Mar
Assim como a Lua
Sonha nua
em tocar a Terra
e gozar.

• sinceramente

Eu sinceramente poderia
amar a vida dia após dia
Mas, sinceramente,
o mundo está tão demente
as pessoas caminham indiferentes
não existe mais amor fluente
e a cidade cresceu decadente
e a política é profissão indecente.
Eu sinceramente poderia
ser possuído pela virtual magia
Mas, sinceramente,
o Estado atual é tão deprimente
o governo sempre mente
o povo é caricatura de indigente
a rotina é vício insistente
e a guerra é desrespeito negligente
e o homem cresceu bicho indolente
e de amor eu me sinto tão carente.
Sinceramente.

• abóboras & parabólicas

Confronta de frente a fronte
Da fome que encara a tua cara
Traça o aço paralelo ao elo de emergência
Destroça o troço que é isso a massa no osso
Mostra a ostra a pérola expõe burguesia
Fala calado na ala do silêncio alado
Pensa essa fibra onde a onda é ótica
Expõe o que põe de novo no ovo
de Colombo solto no espaço
Anuncia a denúncia de miséria séria
Alerta contra o oco no varapau do sertão
Esse ser tão faminto nesse mundo infame
Trata de quem maltrata e mata
Corta o mal pela raiz
Pelo amor deste país
Reflete o ato pelo eco
Discute a boca aberta em parabólicas palavras
Experimenta doce de abóbora via satélite
Escreve noves antes do fim do século
Rebate visões na escrita do olho
Desfaz a paz
Saúda a revolta na volta da ida
Redescobre rede de escombros
no erro da Guerra Nova
Relaciona Deus com o alarde que aciona
Questiona a chama que inflama o breu
Encerra o ciclo enterra o que já era
Bem no início do novo ciclo da outra Era.

• pense calçadas de copacabana

Branco movimento:
Pernas alvas
em
Cooper matinal.
Negro movimento:
Pernas escuras
em
Vida marginal.

• pense coca-cola em copo de plástico branco

Ali
Perto
Paletó
E gravata
Lendo
Jornal.
Do outro
Lado
Peito nu
E pele escura
Fugindo
Do
Policial.

• sobre o joio e o trigo

Nunca se esgotam os esgotos
Nem os egoístas.
Nunca se esgotam as gotas
Salgadas
Que marcam as testas
Dos humildes e dos altruístas.

• mar morto

Há certos pendurados
Há errados flutuantes
Sons navegantes
Ondas onde há odes
Há harpas entre aspas
Espadas faróis mirantes
Chips bombas choros
Horas cruzes luzes
Túneis tubos nações
Há salgada água em meus olhos
E um oceano de lágrimas
Molhando os meus tendões.

• heliantos

Eu vi você correndo pelo descampado
Parecia feliz com seu sorriso gravelado
De braços abertos
Querendo agarrar o sol
Pelos seus cabelos dourados.

E eu vi aquele menino correndo esfarrapado
Fugindo pela avenida pulando arame farpado
Escapulindo da ameaça fardada
Parecia triste com sua asa quebrada.

E eu me vi sufocado com falta de ar
Meu quarto pequeno não tinha luz
A janela emperrada meus Sóis girando
Fiz o que pude para não quebrar a vidraça
Mas os estilhaços se espalharam
Causando microfonia
Criando ecos no interior do salão vazio.

Com o rosto para fora da janela
Enquanto degusto o vinho veneno dos meus sonhos
Vejo penas manchadas de vermelho flutuando no ar.

• flores no jardim

Hoje escreverei versos simples e absolutos
e ficarei com a sensação de ter escrito tudo
Poemarei todos os versos meus de amor
que ainda não foram derramados das ânforas
Cantarei todas as liberdades suspensas no ar
Içarei todas as velas levantarei todas as âncoras
Desfraldarei todas as bandeiras nos quintais

Hoje escreverei versos assim
guardados em frascos de almiscar e jasmim
Serei um sonho de poesia
caminhando pelas ruas depois de uma
tarde de chuva
Quero o cheiro da terra molhada
Quero poder segurar a tua mão
quando estivermos próximos do entardecer

Hoje escreverei versos para serem lidos
mansamente no frescor da alma pura
Estarei emigrando para o Norte
assim que alguém tocar o interfone
ou gritar pelo meu nome em vão
em janelas de sites saturados
Acenarei para todas as ilhas
Beijarei todas as faces que me amam
E ficarei com a sensação de ter dito tudo
Pois tudo será poético sem ética sem ártico
e meus versos serão feitos para você ler
e encostar a cabeça no cajueiro perto do cacaueiro
em pleno janeiro
pensando no calor que aquece os teus poros
e nas paradas que fizer quando tiver
que viajar de ônibus algum dia
E todos os dias serão teus e as chaves
guardadas no bolso sempre que as portas
forem trancadas

Hoje escreverei versos soltos desalojados desengarrafados
e andarei a pé procurando sempre idas e vindas
e lembrando de vez em quando
da Canção da Terra
falando de morte e fome
de sorte e sina e sino e pão
e terra e seca e homem

Quero sentar pelo livre ar e falar de Rimbaud
Falar de Drummond, Buda e Juscelino
Quero sentir as mãos puras do menino
Correr pelo jardim secreto
Citar Renato e questionar o futuro da Legião
Lembrar do Pequeno Príncipe
Olharei no teu olho
e molharei meu pensamento
numa xícara de porcelana chinesa
com chá de hortelã e pitadas de canela
Guardarei o relógio sempre em minha mão
e ele nunca mais conhecerá o meu pulso
Assim que a janela for aberta
quero olhar para Daniela
e falar de amor com torta de limão
em tempos de decadência
Quero respirar um beijo em tua face
e recitar Vinícius de Moraes
enquanto você estiver dormindo

E bem no meio do poema lhe direi agora
que estou escrevendo uma flor
para você cheirar e se fraganciar
enquanto estiver lendo
suas pétalas amareladas soltas ao vento
E então refletirei por cinco minutos
sobre tudo aquilo que escrevi
ou pensarei na foto que nunca tirei de ti
quando estava em algum lugar
pensando a palavra certa
para encaixar em sua redação sobre
qualquer letra de uma música de
Chico Buarque, ou Djavan quem sabe

Hojei escreverei versos nascidos ao acaso
sentado em casa de caso com um ocaso qualquer
Não quero os Mares de Camões
nem o Inferno de Dante
ou os Moinhos de Quixote
Quero apenas estes versos
e chamarei Caetano a ver as borboletas
batendo as asas sobre o Tempo
Quero escrever poemas à luz de velas
em papiros marcados pela cera
Poemarei sobre silêncios distantes
pendurados em altas torres

Hoje estarei vivo em palavras
e falarei pelas bocas de todos
e todos ouvirão minhas preces
minhas prosas meus cantos
Não quero gestos escorregadios
nem caretas enigmáticas nem versos gritantes
Estarei cantando seus olhos
serei simples em espírito e verso
para hoje escrever
cartas de amor e panfletos revolucionários
que serão recitados por um anônimo
sentado em um banquinho alto
no meio de um salão
varrido por amplas janelas
Sua voz será um sussurro
E eu estarei silencioso e vivo
escorregando na melodia de um violino
Silencioso e vivo
pulsando um entardecer cheio
de poesia latente
Uma poesia que algum dia
sentirá vontade
de me escrever em vida
simples solta e absoluta.

• sinfonia da nona onda

No Princípio era o Fim
Não havia escuridão
E nem há luz
Um precipício engole a si mesmo
Enquanto sonha um pensamento-vácuo

Um ponto sorvendo todo o plano
Tragando a própria idéia
De ser arrojadas dimensões
Infinitamente múltiplas variáveis
O é foi será
Eternamente prolongado
cuspido
expandido
e sugado
absorvido
espremido e condensado
num momento no qual o Zero
antecede a si mesmo
...
No Fim está o Princípio
E tudo resumido no tudo desta linha
Até o instante em que vejo
a próxima onda
quebrar na'rebentação

• prece no cio

Perdoe-me se eu sou asSim
Simplesmente debruço-me nos porTais
Tais como os dias cinzentos em que passo Só
Somente pensando em Ti
Timorato mergulhado em violenta paiXão
Chão frio dor no peito aperto no coraÇão
São as emoções do quente viVer
Ver-te enchem meus olhos de lágriMas
Mas eu não compreendo porque te aMo
Morro por esse amor, e de algum morro me jogo e me perCo
Como um paraquedista que se entrega ao venTo
Torpor e embriaguez dos sentiDos
Dos teus olhos tiro goles de viDa
Da tua boca arranco beijos de veluDo
Do teu ventre espero abrigo e mãos de caríCia
Ciático movimento teu entorpecenTe
Te sonho, te sinto, te gozo, te beiJo
Jogo meu corpo na fantasia em plasticidaDe
De cada movimento ondulatório escravo teu Sou
Solto pelas sensuais linhas tuas penetro-Te
Te escondo em cada fluido de sonho molhaDo
Do mundo moderno animal espero naDa
Da vida sutil em som e sentido espero-Te
Tenho noção de minha escravidão reAl
Alguém em correntes por compleTo
Totalmente submIsso
Isso é o preço que pAgo
Agora e sempre
te amo...

• genuflexo

Oro por ti
e enquanto oro
trago as boas lembranças
que tenho de ti dentro de mim
embriago meus olhos com tuas imagens
e preservo o espectro dos teus sorrisos
Na eterna fluidez de meus pensamentos
a terna nudez de meu espírito
é a chama silenciosa de uma vela
que chama a luz
que vela teu sono moreno
Ajoelho aos pés dos teus sonhos
Observo os versos de Vinícius de Moraes
que te ofereço para degustar
em um instante de doces vícios
e pensamentos imorais
Por ti oro
Em ti moro
Partes, e morro...

• na varanda

Das pessoas que eu amo
Dos corações que eu guardo no peito
Trago as lembranças
embebidas no último gole
de um bom vinho...
não estou sozinho.

• galileu

E enquanto
eu caminho pelo corredor escuro
eu penso
E enquanto penso
Existem as minhas lágrimas
resistem os meus amores
persistem as minhas dores.

• birra

Quero mas não posso.
Apenas
molho
minhas mãos
em lágrimas
envenenadas
com
meu desejo.
Quero mas não posso ter.
Ter não posso mas quero...
E aí paquero
com os
olhos
sentados
na vasta
imensidão
de meu ser
sem ter o que
não posso ter.

• abismo

Carros passam convenções assassinam
sinais comandam faixas assinalam
classes clássicos massas máximas
pontos pontes pontas arestas
...
E eu apenas vivo coração extasiado
na passagem da calçada a fitar-te
encarando estes teus lindos
Olhos cor da areia molhada da praia
perdidos nesta esquina movimentada
tirando fotocópias grapiúnas
de vidas ainda não autenticadas.

• karma

Eu só sentimento puro
sem ti santo sacrifício duro
sento só no canto da canoa
sem ti ser ermo sem remo
sereno procuro seremos
pois agora apenas sou.

• uma flor de katinha

Preciso amar
e ter e sentir
preciso ser feliz
e fazer cócegas na ponta
do seu nariz
Sentir o frescor de
tua pele morena
preciso esvaziar o copo
e inspirar os pensamentos
de alfazema
Preciso de ti
preciso te katar
pelos cantos
entre cantos e sorrisos
preciso de
alguma coisa
preciso terminar
este poema com urgência
e ir correndo
dizer que
Te amo.

• suspiro de ocaso

Vi o sol adormecer no horizonte
pelas montanhas do ocidente
Seu último raio diluiu-se de minha fronte
quando a noite sorrateira caiu lentamente
Sereno ocaso ao acaso aéreo
esta lua num puro instante de mistério
sucumbiu o real solar império
meu extático imóvel semblante sério
este meu olhar vasculha
o espaço céu aberto
em busca de mim mesmo
sou pedaço de vento fluindo a esmo
sem direção sopro desnorteado
a eternidade meu cúmplice
e fiel aliado.
Uma eternidade comprimida
em um curto espaço de vida.

• o charme do caviar (ou charque, pra variar)

O pobre vive a chorar
de tanto o rico chatear
com o seu ricochetear
da chicotadas
que acertam
o chico que não tem nada.

• aqui do topo deste poema

Estes versos nascem com o fechar
dos olhos
dos meus olhos
no fundo de cavernas imaginativas
fantasiando terras e céus
montanhas e mares
sou um sonho das
crianças eternas
Sou um desejo latente
no destino de ser realizado
deixo os sapatos no batente...
Vou
voar para o lugar
a que realmente pertenço
Lá em cima
no topo deste poema
onde o verso faz a curva...
Estes versos...

• o vazio das coisas

Estão chovendo silêncios dentro de mim
Tensa a linha do olho espatifa-se
redimensionando visões aglutinógenas
ouço tambores esquartejados
largando sons desfigurados
lavando as escadarias
onde espero sentado
pelo bonde prateado
Minha paciência aguarda
O vazio das coisas
Para me levar a algum lugar
Ainda observo
Os canalhas em calhambeques
os estúpidos estacionados
intransigentes intransitáveis
Mas eles já não engolem mais
a minha atenção
Lembro o tempo em que vivi
com os pés nus e a alma trigueira
Minha casa era Coisa Oca
Ainda observo
os lobos no asfalto devorando Tudo
Mas agora estou ocupado demais
abrindo portas e janelas
e apreciando vasos
Busco Nada na certeza de que
Nada pode mudar as coisas
O Nada pode mudar as coisas
Tudo vem depois
O Tudo vem depois.

• amálgama

Eu sou Deus e sou Diabo
Eu sou a salvaçào e a ilusão
Eu sou a escuridão iluminada
Eu sou a morta luz apagada
Eu sou boêmio sem direção
Eu sou anjo sem asas
Eu sou um morto de sensações rasas
Sou o pé que perdeu o passo
Sou o dançarino sem compasso
Sou o erro e o apuro
Sou transparente água barrenta
Sou vermelho vinho puro
Sou pulsante espinho duro
Sou religioso cético
Sou ateu lógico
Eu sou constante interrompido
instante sempiterno
desejo irrompido
um segundo eterno
Sou loucura e dor
Sou simples e complexo
Sou o espaço puro nexo
Sou o beijo sem pudor
Sou gélido frio
Sou ardente quente calor
Sou a noite descarada
O dia cínico
metal e oração
material e espiritual
Sou oco preenchido
Sou escada sem degrau
Sou a beira do precipício
Sou a profundidade do fosso
Sou o cume da montanha
Sou o fundo do poço
Sou o mestre
O maldito
O dito e o não dito
o escolhido
o renegado
o acolhido
o acoado
Sou o grito de eco mudo
Sou o nada convertido em tudo
Sou a dúvida e a certeza nos olhos teus
Sou a ilusão e a salvação
Sou diabo e sou Deus.

• uni verso

Principiou por tudo
acabar de acontecer
no próximo instante.

• céu cromático

Um gosto agridoce na boca
arrebentação e maresia
altitude e entalpia
Um grito agride a seda
setenta passos na imensidão
róseos rochedos
Progressiva sensação etérea
Um gesto sussurrante no tempo
vertigem e profecia
queda e ventania
fogo e ferro empunhados no Templo
anunciando a dança colorida
dos espíritos
chorando flores
ao redor de um menino
amanhecendo um sonho
no meio de uma
rua qualquer.

• canhoto

Até o fim de meus dias
estarei sendo consumido
pelo fogo ardente
que emana de ti
e que aquece minhas pálpebras úmidas.
A minha religião
é a minha religião
e o meu Deus sou eu
Até o fim deste dia que é meu
acenderei um pensamento
moreno e de pouca idade
que iluminará minha noite vazia.

• as du@s menin@s

O verão trazia boas novas quando encontrou
minha testa enrugada de sonhos desejos amor
pela janela silencioso admirava
c@bral navegar e-mail a uma
tempestade.com.bravura
Foi quando calei para te amar
E então, naquela manhã de retalhos coloridos
conectando meus olhos doloridos
fragmentei meus ecos pelo mundo afora
sem ainda saber agora
que nossos universos
eram lindos versos
guardados em um caleidoscópio
admirado por duas meninas
Desta forma, Tudo o que vejo
parece ser um beijo
inconsistente entre nossas conexões.
Quais são as r@zões que nos prendem?
é preciso navegar é preciso amar
mostrar para a civilização o som da tua canção
admirar as nuvens que fazem sombras no chão
Novamente
calei para ter amar
e no calor deste meu amor
no perigo deste meu silêncio
meu café esfria devagar
meu navio segue a navegar
enquanto as flores desabrocham
para as minhas duas meninas
que te namoram sem pressa
para desconectar...

• tornado vivo

A inércia de meus pensamentos sustenta este momento vivo
eles flutuam em redor de meus olhos acesos
enquanto deixo-me ficar absorto em um quarto sem luz
a noite circula em torno de mim
serena e entorpecente
sopra vinte e duas voltas até espatifar a realidade
em farelos de saudades
sussurros de sonhos e lembranças
mergulhados numa penumbra indelével e penentrante

Vejo uma menina correndo num descampado
seus negros cabelos beijam o céu róseo em
suaves ondas
sua pele morena sorrindo brilhos escorregadios
Ela me alcança me alça me abraça
sinto um mundo de gestos inesperados
meu corpo chora pétalas perfumadas
transpiro toda a mata
o penhasco me atira
o sol me acende
o amor me beija
Aceito todas as realidades que são minhas
todos os universos que são meus

Beijo a beirada de um copo em minhas mãos
uma flor entre o polegar e o indicador
Sapatos sujos de terra
Toda tribo reunida na taba
Alguns segundos de vacilo
quando o que você tenta me dizer
faz voar as andorinhas
e assustar o meu silêncio virgem
Um padre catequiza anjos morenos
Abafo teu latim com o som de minha flauta
beijo a terra mas não abraço a cruz
Pois a minha essência é o que me seduz
Corro para o mato aonde vou gritar
Sob as águas de uma cachoeira
quase a beira-Mar

O grito afugenta a escuridão
e seu eco pontudo faz suspender minhas pálpebras
os prédios lá adiante palpitam
a Catedral esparrama a praça
as pessoas afugentam os pombos
Os automóveis não vacilam
quando o tempo sem piedade
faz voar as andorinhas
e desviar minha atenção de você
Não trocamos uma palavra sequer
Mas a imensidão da Praça nos faz bons amigos

Bebo seu rosto moreno num gole sufocante
e penso afogando seus cabelos
sorrimos um para o outro
Um sorriso quase a Beira-Mar
Quando a chuva começa a cair
desaguando soturnas luzes mansas
Fazendo eu sentir o olho do furacão
Vejo navios partindo da Normandia
e brilhos ofuscantes em Veneza e Paris
Sinto-me eu intrínseco e intenso
Fundido e fluente
Leve flamejante ardente
Girando vinte e duas voltas até
condensar a noite e absorver a realidade
de maneira viciante
Meu quarto sem luz na madrugada chuvosa
A inércia de meus pensamentos é tudo de que preciso
para beijar as flores
e dizer o quanto o Amor é forte.