sexta-feira, 7 de novembro de 2008

• tornado vivo

A inércia de meus pensamentos sustenta este momento vivo
eles flutuam em redor de meus olhos acesos
enquanto deixo-me ficar absorto em um quarto sem luz
a noite circula em torno de mim
serena e entorpecente
sopra vinte e duas voltas até espatifar a realidade
em farelos de saudades
sussurros de sonhos e lembranças
mergulhados numa penumbra indelével e penentrante

Vejo uma menina correndo num descampado
seus negros cabelos beijam o céu róseo em
suaves ondas
sua pele morena sorrindo brilhos escorregadios
Ela me alcança me alça me abraça
sinto um mundo de gestos inesperados
meu corpo chora pétalas perfumadas
transpiro toda a mata
o penhasco me atira
o sol me acende
o amor me beija
Aceito todas as realidades que são minhas
todos os universos que são meus

Beijo a beirada de um copo em minhas mãos
uma flor entre o polegar e o indicador
Sapatos sujos de terra
Toda tribo reunida na taba
Alguns segundos de vacilo
quando o que você tenta me dizer
faz voar as andorinhas
e assustar o meu silêncio virgem
Um padre catequiza anjos morenos
Abafo teu latim com o som de minha flauta
beijo a terra mas não abraço a cruz
Pois a minha essência é o que me seduz
Corro para o mato aonde vou gritar
Sob as águas de uma cachoeira
quase a beira-Mar

O grito afugenta a escuridão
e seu eco pontudo faz suspender minhas pálpebras
os prédios lá adiante palpitam
a Catedral esparrama a praça
as pessoas afugentam os pombos
Os automóveis não vacilam
quando o tempo sem piedade
faz voar as andorinhas
e desviar minha atenção de você
Não trocamos uma palavra sequer
Mas a imensidão da Praça nos faz bons amigos

Bebo seu rosto moreno num gole sufocante
e penso afogando seus cabelos
sorrimos um para o outro
Um sorriso quase a Beira-Mar
Quando a chuva começa a cair
desaguando soturnas luzes mansas
Fazendo eu sentir o olho do furacão
Vejo navios partindo da Normandia
e brilhos ofuscantes em Veneza e Paris
Sinto-me eu intrínseco e intenso
Fundido e fluente
Leve flamejante ardente
Girando vinte e duas voltas até
condensar a noite e absorver a realidade
de maneira viciante
Meu quarto sem luz na madrugada chuvosa
A inércia de meus pensamentos é tudo de que preciso
para beijar as flores
e dizer o quanto o Amor é forte.

Nenhum comentário: